domingo, 13 de junho de 2010

Antes De Tudo Acontecer!

Nasci de uma forma estranha, meu corpo era frio e gelatinoso. Com o tempo, fui percebendo que as águas eram por onde eu passaria todo o resto da minha vida e sem saber ao certo quanto tempo duraria esta tal ‘vida’.
Um dia no mar, escutei pelas baleias que um homem velho, havia inventado logo depois de ter-nos criado, pessoas que logo habitariam um mundo acima do nosso, eu obviamente considerei está história um absurdo, mas eu gostaria de presenciar isso mesmo que custasse a minha ‘curta longa’ vida.
Quase na superfície eu sofri um impasse, algo que fez-me decidir algo do qual eu nem ao menos saberia de que se tratava. A ansiedade era tão grande que eu decidi arriscar- me e aceitar a proposta sem ao menos saber o que era. Adormeci. Um dia acordei. Era claro e não se escutava mais o barulho do mar, das águas que iam de encontro às rochas... Não, nada mais. Avisaram-me alguém, sei lá quem, de que aquela teria sido minha escolha e caso eu estivesse arrependido, eu estaria provando de um dos pecados humanos. ‘Tudo bem’ eu disse. Eu estava com um formato agora do qual eu desconhecia completamente, sem saber para onde eu deveria ir, com quem deveria conversar, o que deveria comer e com quem eu deveria me relacionar.
Saí do lugar onde meu novo corpo encontrava-se. Era um quarto com uma espécie de corais em formato quadricular e algo no qual eu sentia um leve conforto. Para a minha sorte, havia um papel escrito assim: ‘Dê um nome a cada um destes objetos que estão no local onde te encontras’. Pois bem, antes de deslocar-me ao mundo afora, decidi nomear aquele vasto conforto que abaixo de mim encontrava-se de colchão. E aquele quadrado - que parecia um objeto repleto de corais - de mesa.
Saí. Havia luz, e como havia. No fundo do mar não se presenciava isso e para a minha sorte, meu corpo novo não se debatia no chão por estar fora do mar, como as minhas amigas baleias haviam me dito caso um dia, eu saísse da minha, agora antiga casa.
Coloquei minhas mãos em uma espécie de bolso e saí a usufruir do meu novo corpo que eu havia recebido. Dentre lá por alguns instantes, pude perceber que este mundo era diferente daquele do qual eu habitava no mar. Não havia outros que nem eu, não havia outros que andavam como eu, era tudo mais diferente e monótono e então, pude sentir uma tristeza da qual no meu habitat anterior eu não sentirá em nenhum momento.
‘Abra-te espaço, que por sobre ti lançar-te-ei alguém com quem possas conversar’. Em alguns instantes, logo depois desta voz da qual até hoje eu não saberia dizer de que ser ela se enquadra, uma jovem fêmea que aparentemente possuía as mesmas formas do que as minhas é claro, com aspectos femininos, caiu literalmente dos céus para o meu mundo que agora, poderia chamá-lo de não mais sombrio.
A voz, imediatamente pediu para que criássemos um mundo. ‘Um mundo’ eu disse. E ela, que transparecia ter mais sabedoria, disse: ‘Sim, um mundo’. De forma rápida e astuta, uma evolução estrondosa pairava diante de meus olhos, era magnífico. O crescimento, as pessoas iguais a nós dois...Enfim, fiquei estupefato. A voz pronunciou-se novamente e propôs a minha pessoa e ao meu corpo novo, outro desafio. Era inacreditável como eu havia mudado meu aspecto, sem saber do tempo, sem saber das horas e só observar o som do vento e a despedida do sol para a aparição da lua e das estrelas.
Já mais astuto, conhecendo alguns dos meus sentimentos, atrevi testar outros dos quais eu sabia da existência e ao mesmo tempo, desconhecia dos seus efeitos. Aceitei o desafio, que eu inacreditavelmente desconhecia-o novamente. Adormeci. Acordei. Tudo agora passava como se estivessem em uma velocidade extrema da qual nem o vento poderia parar tais movimentos. Desta vez eu não possuo braços nem pernas... Nem a mulher da qual aquela voz mandou para meu antigo corpo..Isso deixou-me com um sentimento horrível. Esse era o medo do qual eu escutei pelas minhas amigas baleias. Objetos móveis, outros seres diferentes do meu antigo corpo..Era assim que eu via o mundo agora e não havia nada do que eu havia criado, tudo era mais diferente e sem cor..Sim, a vida no mar era mais tranqüila. Com o tempo, fui sentindo-me ‘’quebrado’’ e pensando instantaneamente: ‘’Que escolha eu fiz, o que sou agora?’’
‘’Passarás por dores jamais sentidos quando fostes do mar, passarás dores das quais nunca sentistes como homem e agora, o que resta-te é escolher o teu último vestido. Só tu irás saber se ele lhe servirá para a vida, ou para a morte’’.
‘’Se é dessa forma, que ao mundo eu virei a ser, um ser nada, eu opto pela última salvação’’
‘’Que assim seja’’. Ele falou. Adormeci. Acordei. Corais, baleias e dragões...Voltei. Ganhei vida e cor. ‘’Será que um dia, eu terei a resposta de tudo o que passei? O que foi tudo o que eu passei?
Provei de sentimentos, presenciei movimentos dos quais desconhecerá e vi seres diferentes dos quais eu pensava que não existiam além do meu.
‘’Experimentarás tudo novamente, com um novo corpo, uma nova vida. Qual a tua vontade?’’
Pensei. Pensei se eu deveria arriscar. E eu arrisquei!






*Músicas escutadas enquanto eu escrevia este conto:

- Bob Dylan - Beyond Here Lies Nothin’;
- Bob Dylan - Hurricane
- Oasis – Champagne Supernova;
- Oasis – Up in the Sky;
- Radiohead – Karma Police;
- Radiohead – My Iron Lung;
- The Kooks - Seaside.

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